Entre os grandes peixes que podem ser fisgados na modalidade de praia, há um grupo que muitas vezes desperta reações de temor e até repulsa por parte dos pescadores. Estamos nos referindo às arraias, cujas representantes mais frequentes em nossas praias, ao menos na região Sudeste, são as conhecidas como arraias-manteiga (gênero Gymnura), lixa e prego (ambas do gênero Dasyatis).
Por experiência própria, posso dizer que lidar com elas não é nenhum bicho de sete cabeças. O que é necessário, isso sim, é exercitar a “virtude” pela qual todos nós, pescadores, somos conhecidos – a paciência – e ter muita cautela ao manuseá-las. Em muitos torneios em que o peso dos peixes é o principal fator para a contagem de pontos, as arraias são os principais objetivos de muitos competidores, e não é à toa: as menores não costumam pesar menos de dois quilos.
Mas basta ter tranquilidade e material adequado para trazer essa guerreira para a areia.
Enquanto em grande parte do Sudeste e Sul elas são costumeiramente capturadas e soltas, vale dizer que, no Nordeste, são muito apreciadas na culinária.
O que usar?
Na pesca de arraias, o maior desafio é cansá-las rapidamente. Fortes, elas têm por hábito prenderem suas grandes barbatanas peitorais na areia e dali não saírem facilmente. Portanto, é fundamental usar material forte o suficiente para tirá-las do fundo e mantê-las na meia-água, onde a resistência oferecida é menor. Um bom conjunto com essas características pode ser montado com os seguintes equipamentos:
Vara: de ação média a pesada, com 3,6 a 3,9 metros.
Molinete: da mesma categoria (numeração 4 000 a 6 000), com um bom sistema de freio.
Linha: a mais indicada para pescar essas guerreiras é a de 0,26 mm (de monofilamento ou 0,17mm de multifilamento). Pescadores mais experientes podem usar espessuras menores (0,20 a 0,23 mm) sem problemas.
Anzóis: resistentes e relativamente grandes, como os modelos Mutu, SSW, Mini Shiner Hook, Octopus e Izumedina nos tamanhos 14 a 16. Mas nada impede que o pequeno Maruseigo 10 também funcione.
Iscas: as mais produtivas são as de peixes. Para usar em filés ou pedaços, a sardinha, a manjuba e o farnangaio são campeões; mas pequenos roncadores e carapicus vivos também podem ser usados.
Chicotes e pernadas: as arraias fisgadas em beira de praia costumam estar próximas ao fundo; são, por isso, geralmente fisgadas na primeira pernada acima da chumbada. O chicote pode ter uma única pernada ou até duas, com uma distância de 120 cm entre os rotores, para deixar a linha bem solta para as iscas se posicionarem na areia. As pernadas podem ter cerca de 60 cm.
Pesos: como a intenção é arremessar a uma média distância (30 a 50 metros) e travar o conjunto, as chumbadas do tipo pirâmide ou pião, com cerca de 90 gramas, são as mais indicadas.
Durante a briga… Nos primeiros instantes após a fisgada, a arraia leva bons metros de linha, e então simplesmente para. É hora de aguardar e ser paciente; se a linha for forçada, certamente arrebentará. O correto é esperar que ela se movimente de novo para então imprimir força e dar algumas “maniveladas”, sempre dentro do limite de resistência da linha. Caso ela trave novamente junto ao fundo, repita o processo quantas vezes forem necessárias, num lento jogo de paciência. Se a arraia for grande, com 10 quilos ou mais, é comum até deixarmos o caniço na espera (com a fricção devidamente regulada, nunca fechada) até que ela se canse um pouco mais.
Dicas de manuseio
Esta é uma dúvida de muitos pescadores: quando a arraia se cansa e chega à areia, como deve ser tirada da água? Quando a ideia é consumi-la, o bicheiro pode ser usado diretamente. Na pesca esportiva, porém, o cuidado para soltá-la é maior. Assim que ela estiver vencida, já na areia, coloque o caniço na espera e segure-a pelos espiráculos, como são conhecidas as duas cavidades presentes logo atrás de seus olhos. Então, utilize um alicate para retirar cuidadosamente o anzol de sua boca. Ao segurar a cauda, em cuja base está o grande e pontudo aguilhão (“ferrão”) que é recoberto por muco tóxico, firme as mãos um palmo abaixo da base, de preferência usando uma luva. Apesar do perigo maior ser pisar em uma arraia dentro da água, fora dela o animal costuma se debater dando chicotadas com a cauda, fique atento.
(Fonte: site pescanapraia.com)